alhos
& bugalhos
Leitura
do Dia
Kennedy, a glória de um mito
Na sexta-feira da próxima semana completam-se cinquenta anos do assassinato do
presidente John Kennedy. O mistério que acompanha os tiros de Dallas soma-se à
mística que as obras inacabadas, bem como as ruínas, produzem na imaginação das
pessoas. E se ele não tivesse ido ao Texas? Quase certamente, seria reeleito, e
aí?
Como todos os exercícios do gênero,
cada um pode achar o que quiser.
Começando a prospecção pelo que
aconteceu no Brasil 98 dias depois, a resposta é simples: Dava na mesma. Na
noite de 30 março de 1964, quando o presidente Lyndon Johnson foi avisado de
que a rebelião militar brasileira estava prestes a eclodir, o que ele fez foi
colocar sobre a mesa os planos deixados por Kennedy. Sem tirar nem por.
Passado meio século, criou-se a
mitologia segundo a qual tudo seria diferente se ele não tivesse ido a Dallas.
Kennedy queria sair do Vietnã. Tudo bem, mas quem entrou foi ele. Kennedy
queria se reaproximar de Cuba. Quem tentou invadi-la foi ele. De quebra, planejava
o assassinato de Fidel Castro.
Kennedy foi o primeiro presidente
americano a tirar extremo proveito da construção de um tipo. Seu antecessor, o
general Dwight Eisenhower, elegeu-se porque comandara as tropas aliadas durante
a Segunda Guerra. O simpático milionário elegeu-se com uma aura de juventude e
dinamismo quando, na verdade, era um homem doente, amarrado num colete que lhe
poupava a coluna e mantinha erecto, com a elegância de um desportista. Tinha
uma mulher linda, chique e espertíssima. Foi ela quem inventou o mito de
Camelot e armou um bem-sucedido boicote ao melhor livro sobre o assassinato do
marido. É "A Morte de um Presidente" de William Manchester, escrito a
seu pedido, com sua colaboração. Num lance de boa-fé que faria inveja a Roberto
Carlos, Manchester cedeu à Biblioteca Kennedy os direitos de publicação e,
apesar de ter vendido mais de um milhão de exemplares ao ser publicado, o livro
foi para geladeira das obras esgotadas. Felizmente, voltou à livrarias e está
na rede, em inglês, por US$ 9,78.
Kennedy foi substituído por Lyndon
Johnson, um sujeito sem graça, casado com uma senhora inexpressiva e tinha duas
filhas chatas.
A grandeza do presidente assassinado
está em dois episódios que o companheiro Obama parece não ter estudado. Nos dois
casos, afastou o mundo da guerra porque não confiou em generais insanos e na
Central Intelligence Agency. No primeiro, menor, ele se engrandeceu abraçando
um fracasso. Em abril de 1961, logo depois de sua posse, uma força
expedicionária de exilados invadiu Cuba. Em poucos dias ela foi cercada e 1.200
voluntários foram capturados. A CIA entrou no lance acreditando que o novo
presidente dobraria a aposta, dando apoio aéreo aos invasores. Enganou-se.
No segundo episódio, quando foram
descobertos mísseis soviéticos em Cuba, Kennedy pilotou pessoal e
minuciosamente a crise, congelando as opiniões dos chefes militares. Se
dependesse deles, muito provavelmente teria começado a Terceira Guerra Mundial.
Felizmente Kennedy gravava todas as suas reuniões, sem o conhecimento dos
outros. Os russos recuaram publicamente, recolhendo os mísseis de Cuba, e ele
recuou em segredo, comprometendo-se a retirar foguetes da Turquia. Se Obama
tivesse desafios desse tipo o mundo estaria frito.
Elio Gaspari, nascido na
Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística.
Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões
Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de
"Poder".
VOU BATER O MARTELO...
PONTO FINAL. (REDAÇÃO: O
BOLSO DO ALFAIATE)
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