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Stringer . / Reuters - Ao que tudo indica, Lula
não poderá ser o candidato do PT nas eleições presidenciais deste ano.
Após conseguir a proeza de terminar
oito anos de mandato – entrecortados por crises políticas como a do mensalão em 2005 e a
crise financeira internacional de 2008 – com quase 90% de aprovação popular,
Lula foi abatido em pleno voo por uma bala de prata jurídica.
Minha opinião sobre a condenação de Lula? Não sou
jurista, não li o processo, não entendo do carteado. Minha impressão? Trata-se
de um dia estranho na História de nosso país.
O Judiciário, tal qual o Poder Moderador imperial, evitou o pesadelo
que atormentava as "gentes de bem" desta terra: Lula vencer as
eleições presidenciais mais uma vez.
Independentemente dos méritos ou deméritos
jurídicos, tem-se aí uma saída politicamente magistral, isso não se pode negar.
O Poder Judiciário-Moderador evitou os "perigos" de um Lula
renascido; de um PT purgado de suas máculas da ladroagem por um batismo de
sangue via voto popular.
Assim como as pedaladas fiscais
serviram para tirar Dilma Rousseff de modo asséptico — evitando, por um
lado, que o Brasil degringolasse numa Argentina do final da Era Kirchner e, de
outro, a necessidade de apelar-se para um cafona golpe armado de Estado —, o
"tríplex do Guarujá" serviu para tirar Lula de modo indolor da
corrida presidencial.
Assim como Dilma terminaria afastada com ou sem
crime de responsabilidade, já era previsível e legível em letras garrafais que
Lula não poderia ser candidato (e sendo candidato, não poderia vencer; e
vencendo, não poderia governar; e governando, não poderia terminar seu mandato;
tal qual ensina o batido rosário lacerdista).
O problema agora é que muitos dormem
sonhando que uma eleição sem Lula no páreo seria uma estrada pavimentada para a
vitória de um "gestor limpinho". De preferência uma figura com bom
trânsito nas boas casas do ramo do complexo Paulista-Faria Lima. Uma figura
bem-criada e bem-nutrida, alguém como Geraldo Alckmin, João Doria
ou Luciano Huck.
Porém – ah, porém! – esses que hoje dormem sonhando com um paulista de punhos
de renda ocupando o Palácio do Planalto podem acordar amanhã batendo
continência para um presidente Jair Bolsonaro (Vá de retro! Valei-me
minha Nossa Senhora das Liberdades Democráticas!).
Pesquisa recente do Datafolha
mostra que sem Lula, a liderança das intenções de voto vai para aquele cujo
nome não quero mais citar, com algo entre 18% e 20% dos votos.
Muito se fala dos limites da
candidatura daquele deputado do Rio de Janeiro. Diz-se por aí que é impossível
que ele ganhe, que assim que abrisse a boca seus números desabariam. Não tenho
dúvida que, em um debate, Ciro Gomes, por exemplo, o colocaria no bolso
sem grande esforço, tal qual fez com aquele blogueirinho, no famoso "Show
do Bilhão".
Mas política não é racionalidade. As ideias
autoritárias do deputado fluminense podem encontrar ouvidos receptivos não só
entre a classe média, mas entre as classes pobres deste País, que são de longe
os que mais sofrem com a violência e o crime. Nosso passado sebastianista deixa
margem para a aposta numa figura paternal que colocará as coisas em ordem por
meio da força.
Segue sendo apavorante a ideia de começar uma
eleição com aquela figura na liderança.
É brincar com fogo em uma piscina de gasolina.
Doria, pelo andar de sua carruagem que acelera rumo
à colisão num triste poste da marginal, já sabemos que não tem fôlego para uma
disputa presidencial. É uma farsa que vai sendo desmontada sem grande esforço,
pela incidência inexorável da lei da gravidade.
Alckmin, bem ou mal, tem bastante
experiência administrativa. Mas ele parece condenado a ser a reencarnação do
Brigadeiro Eduardo Gomes: o sonho dos liberais tupiniquins, mas insosso para as
massas marmiteiras deste País.
Daí o desespero de se apelar para a candidatura de
Luciano Huck.
Luciano Huck significa a falência absoluta de
ideias da banda direita de nosso espectro político.
Muito se fala do potencial de crescimento da
candidatura deste senhor que presenteou os adolescentes dos anos 1990 com as
inesquecíveis figuras de Tiazinha e Feiticeira. Não se pode negar que nesse
circo midiático que virou e tem virado a política em todos os países, a figura
de uma celebridade televisiva ricaça e vazia possa se pôr a sonhar com altos
cargos políticos. Já aconteceu em democracias muito mais sofisticadas que a
nossa.
Mas o que Huck tem a oferecer ao
País? Sua única obra – além dos programas de televisão populistas, do tipo que
"humilha o pobre, humilha, humilha, humilha, humilha e depois ajuda",
como já disse um grande nome do transporte alternativo brasileiro, é um manifesto tristinho que escreveu quando teve seu rolex
roubado num dos "faróis" do Itaim.
É isso que os liberais têm para nos oferecer?
Talvez seja exatamente por isso que Huck é um bom
representante da direita brasileira. Não se pode fugir da impressão que nossos
liberais – dos jovens recém-púberes do MBL, passando pelos coroas do
DEM-PFL-PDS-ARENA – não passam de playboys que choram um rolex roubado, mas sem
ideia alguma de como resolver os problemas fundamentais do Brasil.
É, pensando melhor, talvez Huck seja mesmo um ótimo
candidato.
*Este artigo é de autoria de
colaboradores ou articulistas do HuffPost Brasil e não representa ideias ou
opiniões do veículo. Mundialmente, o HuffPost oferece espaço para vozes
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