É isso aí

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terça-feira, 3 de setembro de 2013

alhos & bugalhos


Donadon e a elegância de camburão

Por Ana Luiza Archer* - Um camburão parou em frente ao Congresso e dele saiu um homem elegantemente trajado, envergando um respeitoso terno e gravata, e algemado. Notava-se claramente que o preso era importante, que era uma “excelência” - vale ressaltar, em situação inédita no Brasil. Um espanto. Ato contínuo, rapidamente ele entrou no prédio e chegou ao plenário, já sem as algemas, onde seria decidido se o seu mandato de deputado federal seria cassado ou não. Era o deputado Natan Donadon e o resultado todo mundo sabe. Depois de apelar com gestos teatrais e dramáticos, depois de julgado e condenado pelo STF por corrupção, naquela noite, sob o manto do voto secreto, ele foi “perdoado” pela Câmara Federal e não teve seu mandato cassado. O constrangimento foi acachapante. A quem esses deputados representam afinal? Como eles puderam votar contra os melhores valores da sociedade brasileira? E agora, a quem Donadon representa? Teria se iniciado a formação da “bancada da Papuda”, cujo deputado-presidiário seria o seu representante? Em seguida, fechando a noite no plenário, Donadon se ajoelhou e levantou as mãos para o alto, em agradecimento teatral, e partiu novamente de camburão e algemado, de volta para o presídio da Papuda. Todos nós, simples e mortais cidadãos, acompanhamos par e passo essa pantomima pela TV.

No dia seguinte, os jornais, as TVs, as redes sociais, enfim, a sociedade inteira estava perplexa e indignada. Que disparate! Depois das manifestações de junho, se imaginava que o Congresso teria mais respeito pela população e tentaria entrar em sintonia com as ruas. Se até o STF já havia cassado os direitos políticos de Donadon, devido à sua condenação, como seu mandato parlamentar poderia continuar vigorando? É incompatível, e uma afronta! E embora nada justifique o acontecido, ao menos se procurava uma explicação. Teria havido um acórdão dos deputados, seus pares, para protegê-lo? Afinal, toma lá, dá cá, uma mão lava a outra e nunca se sabe quem pode ser o próximo candidato à cassação. Ou a intenção seria abrir um precedente para beneficiar os condenados no Mensalão? Não se sabe. Teorias da conspiração afloraram.

É desalentador perceber o imenso fosso que existe entre o Congresso e a sociedade. Perceber o quanto os nossos representantes estão desconectados da realidade brasileira. Não há credibilidade que resista a tal traição. E considerando a nossa democracia, é ainda mais preocupante perceber que o Legislativo, um dos seus poderes -- que deveriam ser independentes e equilibrados -- se mostra tão desmoralizado. Tão ineficaz a ponto de justificar interferências do STF, tais como a suspensão recente desta decisão do plenário da Câmara que manteve o mandato do deputado Natan Donadon. Lamentável.

O voto secreto no Congresso tem sido extremamente pernicioso. A quem interessa? Exigimos satisfações. Se a intenção original seria proteger os deputados de pressões indevidas para que pudessem votar com a sua consciência em busca do melhor para a sociedade, na verdade, tem acontecido o contrário: eles têm votado apenas em prol dos seus próprios interesses racionais, emocionais ou o que sejam - sem qualquer crise de consciência. Portanto, em face dessa constatação inequívoca, uma medida se impõe fortemente: que seja aprovada o mais breve possível a PEC do voto aberto - antes da votação dos mensaleiros, porém, importantíssimo, sem atrasá-la. Do contrário corremos o risco de acompanharmos pela TV novas cenas deploráveis de parlamentares elegantemente trajados e algemados transitando de camburão pela cidade. Não deixa de ser representativo, mas é uma aberração. O Brasil não merece isso. *Ana Luiza Archer é engenheira


VOu bATER O MARTELO...PONTO FINAL. (REDAÇÃO: O BOLSO DO ALFAIATE)

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