Walmir Rosário - 
Como cristão – católico praticante – aprendi desde cedo que Deus é o único responsável pelas nossas vidas. A Ele também é dado o direito sobre quando deveremos parar de viver, descansar, segundo alguns. Ao homem, quando transgride esse mandamento, é julgado e apenado pelas leis dos homens. Mas existem algumas exceções escritas e outras não escritas, e estas são as piores.
Mesmo aqueles que dizem ser mais chegados a Deus, gozando de privilégios de atender a Seu chamado e conversar com Ele têm esse poder. Mesmo que acumulem essa pretensa regalia – como querem alguns – com a prefeitura de Itabuna, pode ir tirando seu “cavalinho da chuva”, pois o castigo virá a galope, como mostram as pesquisas.
Aos políticos são dado o direito – não está escrito nos códigos ou Constituição – de matar pessoas, desde que por métodos não tradicionais. O presidente da República, o governador dos estados e os prefeitos cometem crimes de morte das mais diversas formas, a exemplo da condenação à sede, no Nordeste; à doenças várias, pela falta de saneamento; de fome, pela falta de políticas públicas decentes, etc.
Essas são as mais frequentes, embora outra forma de execução de sentença – informal – seja a cruel: a falta de prestação dos serviços de saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS), que deveria cuidar da saúde das pessoas é utilizado para relegá-los à doença, culminando com deficiências físicas irreversíveis, males crônicos e até à morte. E fazem isso sem a menor cerimônia e até assistimos nos noticiários dos meios de comunicação.
Essas ações (não são omissões) são coisas de rotina nas unidades básicas de saúde e hospitais. Faltam médicos – é verdade – mas o problema mais recorrente é a falta dos medicamentos e o oferecimento dos procedimentos prescritos pelos médicos. Não adianta o simples diagnóstico, mas o tratamento, já que nossa saúde não merece o simples e prático trabalho de prevenção.
Dizem os técnicos que para cada R$ 1,00 que se deixa de investir outros R$ 5,00 no tratamento. Apesar dos dados oficiais, ao cidadão brasileiro não é dispensada a atenção que merece, apesar do dispêndio, via impostos, de recursos suficientes para tal mister. Para nossas autoridades, a vida da população, do cidadão comum é uma simples estatística.
Os absurdos estão a qualquer parte. Em Itabuna, Ilhéus, Salvador, Brasília, Oiapoque ou Chuí. Pouco importa, o crime dos políticos é praticado da forma mais democrática possível. Quer dizer, nem tão democrática assim, pois os menos servidos – ou bafejados pelas posses – são os maiores índices nas estatísticas oficiais. Números frios, implacáveis.
Mas como moro em Itabuna, vamos nos ater à nossa paróquia. Um cidadão do povo sofre um trauma. É atendido pelo médico que, após examinar o Raio X, diagnostica fratura. Imediatamente autoriza a imobilização engessando a área afetada. Tempos depois, retira o gesso, faz novo Raio X e recomenda a fisioterapia, coisa simples, procedimento comum, mas necessário.
Isso é o que pensa o médico, não as autoridades da saúde de Itabuna. Na unidade de saúde o paciente – bota paciente nisso – é quase recomendado a desistir. Os mais teimosos seguem em frente e vão enfrentar a burocracia da central de regulação. E é aí que “vão ver o que é bom pra tosse”. E vem logo a pergunta:
– Mora em que bairro? – interroga o funcionário.
– Pra esse bairro não tem mais, só no mês que vem – despacha o pobre do paciente.
E diz isso com aquela voz professoral, determinando a imediata retirada do paciente da sala. Também quem mandou o morador do bairro Califórnia se acidentar nesse mês. Se pelo menos fosse do bairro São Caetano, poderia dar um jeito.
– Quem já viu querer tudo na hora. Pensa que é quem? Agora é assim: o planejamento libera os procedimentos de acordo com o bairro – diz o funcionário, achando-se senhor de si. Só faltou combinar com o povo.
À primeira tentativa de reclamação do paciente-paciente, o funcionário faz cara de zangado e vira-se para o(a) colega ao lado e tasca uma pergunta sobre a protagonista da novela de ontem, talvez o único assunto que interesse à população. Sobre isso ele sabe tudo, não perde um só capítulo.
Quem não sabe de nada, inclusive sobre os seus direitos, é o paciente, que “rabo entre as pernas” como um cachorro escorraçado, dá meia volta e promete voltar no mês que vem.
Do dia 17 de julho, quando foi informado que viesse no começo de agosto, foi despachado para retornar em 2 de setembro. Quem sabe não precisa mais voltar, pois sem realizar o procedimento fisioterápico, no mês seguinte já não tenha eficiência alguma e seja obrigado a conviver com o “aleijão”, ou para os politicamente corretos, uma daquelas deficiências de nome complicado. Dá no mesmo. Assim como na fisioterapia, os pedidos de cirurgias, então, completam aniversários.
E assim, o prefeito Vane, que disse ter exonerado – enquanto concedida uma entrevista, numa falta de respeito com um seu colaborador – o secretário municipal da Saúde por não ter ele dado conta da rede de atenção básica. Errou o prefeito por desconhecer a outra ponta da rede e, mais ainda por ter prometido ele mesmo solucionar os problemas.
Como disse anteriormente, se não aprendeu a prefeitar, muito menos secretariar.
Jornalista, advogado e editor do www.ciadanoticia.com.br